terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Balanço de fim de ano.

Mais um texto de fim de ano. Precisamos, de alguma forma, manter as tradições. Eu as mantenho escrevendo.
Se bem que tenho escrito pouco. Não que não haja mais do que escrever. Na verdade, tem havido muito sobre o que gastar uma linha ou duas...
Tivemos um amigo chamado de "moleque" (vejam em http://franciscoclbrito.blogspot.com/2009/11/moleque-ou-gente-grande.html) pelo (in)digno senhor presidente do IPREF. Não que o meu amigo não seja moleque às vezes. Mas se alguém tem que chamá-lo de moleque somos nós, seus amigos, e não qualquer outro. Fica o aviso: nós cuidamos dos nossos moleques. Dos (in)dignos senhores como o presidente do IPRF talvez a Justiça cuide (algum dia).
Tivemos chuva, vinda do céu. Tivemos alagamento, aqui na terra. Teremos solução? Isso eu creio que nem Deus sabe.
Tivemos uma ponte bonita. Tivemos não é bem a palavra: teremos um dia, quem sabe... Só Deus sabe quando. Não que esteja fazendo falta - continuamos chegando e saindo de Guarulhos. Se pelo menos o término da ponte bonita facilitasse a saída de certos (in)dignos senhores de nossa cidade...
Reencontrei amigos durante esse ano. Isso é sempre bom. Faz com que tenhamos certeza que o passado não é apenas memória (que me desculpe Bergson e meu amigo Elson), mas presença, uma presença que se coloca à nossa frente. O passado não é o que fica para trás,mas aquilo que nós trazemos à nossa frente, sempre. O nosso passado nos apresenta  ao nosso futuro.
Vi bons filmes, escutei boa música, comemorei meu amor e minha amada, estudei, li, iniciei a realização de sonho - conclusão de uma tarefa há muito começada. Meu amor sabe do que falo.
O que quero para o ano que vem? Minha amada, meu filho, um bom livro, bons amigos e algumas noites de sono. Isso basta.
Feliz ano novo.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Apenas escrevendo.

Já faz muito tempo que eu não escrevo aqui. Bastante tempo. Houve um tempo em que eu pensava que escrever podia fazer alguma diferença. Algo que eu escrevesse podia fazer diferença no mundo. Podia inspirar alguém. Podia fazer alguém refletir. Hoje já não creio mais nesse poder das palavras. Parece que a única função delas, hoje, é preencher um vazio na tela: há um espaço em branco e precisa ser preenchido. Há um blog e algo precisa ser escrito. Nada mais.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Um amor inventado




A frase em si não é original. Mas deixo a busca pela sua origem de lado.

Já desejei um amor pronto. Assim já todo feito, embalado pra presente. Só desembrulhar e usar.

Um amor assim viria com manual de instrução. E, é claro, com certificado de garantia. Caso desse algum defeito, poderia ser trocado. Minha total satisfação ou meu dinheiro de volta.

Um amor assim deveria vir exposto em prateleiras. A gente ia percorrendo-as, como num mercado, vendo cada um desses amores, comparando-os uns com os outros, para melhor escolher.

Um amor assim já pronto deveria vir também com prazo de validade. Ou alguém aí duvida que um amor pronto, mesmo sendo pronto, mesmo por ser pronto, não teria prazo de validade? Isso já ajudaria na escolha: amor para um ano, para dois, para dez anos. Amor para sempre – seria possível um amor assim?

Um amor pronto. Acondicionado numa embalagem bonita e prática. Nem mesmo precisaríamos desembrulhá-lo. Poderíamos, quem sabe, apenas deixá-lo exposto em nossa estante para mostrar aos amigos: eis aqui o meu amor. Mas você não vai abrir? Não. Vou deixar esse amor para uma ocasião especial.

Pois bem. Já quis um amor pronto. O problema é que só depois que eu o adquiri é que descobri algumas coisas interessantes. O manual de instrução vinha escrito numa mistura de chinês com russo, o prazo de validade tava meio apagado – nunca consegui entender se estava escrito para sempre ou para nunca. E não havia Procon que desse conta das reclamações.

Mas o pior vocês não imaginam: mesmo com a embalagem aberta o amor não saia. Parece que ele gostava de ficar dentro da caixa. Gostava de ser visto, claro. Era pra ser visto. Um amor pronto: pronto para ser mostrado, pronto para ser visto. E era só isso: era um amor que se bastava.

Por mais que eu virasse a caixa de cabeça pra baixo o amor não saía – comprazia-se em desafiar até mesmo a lei da gravidade. Chacoalhei a caixa pra todo lado e nada. Devolvi. Pelo menos aceitavam devolução. Explicaram-me que a procura continuava grande e mesmo um amor pronto de segunda mão tinha mercado.

Desisti dessa coisa de amor pronto. Com muita relutância.

Fiquei sabendo que há um outro amor. Esse, não se encontra pra comprar. Encontra-se, por assim dizer, no susto. De repente dá-se de cara com ele, sem saber.

Nem mesmo parece amor, e já lhes digo porque: é um amor não-pronto. Inacabado. Incompleto.

Nem se percebe o que é quando se encontra. A gente fica olhando meio assim de lado, de rabo de olho. Desconfiamos: será que isso aí é amor? Parece não. Está assim meio que faltando uns pedaços.

Disseram-me, todavia, que é amor. Mas é assim um amor que ainda não existe. Como assim não existe? Bem, não existe, mas pode existir.

Meio complicado isso de encontrar um amor que não existe. Se não existe como é que pode ser encontrado?

Fico dando voltas no texto apenas porque dizer o que se segue me incomoda de tal maneira que preferia não ter que dizê-lo. Seria bom não dizê-lo. Mas não posso, enfim, deixar de dizê-lo porque agora é ele quem me diz.

Explico.

Desde que o encontrei, sou dito por esse amor que não existe porque é inventado. Inventado porque não é pronto. Não é pronto porque é incompleto. Porque me incompleta. Porque não é suficiente, porque nunca é o bastante.

Um amor inventado, que não cabe numa caixa porque transborda. Nunca está e nunca estará pronto porque se inventa a cada encontro, porque me inventa a cada encontro. Porque me transborda, me excede, me toma. E me mostra a cada dia a incompletude de ser amado.

Não tem garantias, pois é da ordem do risco, da aposta. Também não tem validade: dura tanto um instante quando uma eternidade. Não se pode devolver: eu não o peguei nem ele me pegou – apenas nos encontramos.

O meu amor inventado tem lindos olhos puxados e uma pele morena.E me inventa todo dia.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Sobre as Confraternizações


Devo dizer que a preguiça tem sido imensa. Ou há tão pouco do que se escrever?

Bem. Chega o fim de ano e chegam as confraternizações. Tempo de comemorar o... O que mesmo? O ano que se finda? As conquistas? Ou comemoramos apenas o fato de termos sobrevivido ao ano que termina? A última hipótese parece-me ser a mais plausível.

Mas vamos ao texto, pois se cheguei até aqui é porque estou escrevendo algo.

Sou convidado a participar da confraternização da Secretaria de Desenvolvimento Urbano. Embora continue ocupando o prédio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, já faço parte, pelo menos teoricamente, daquela outra. Pelo visto, sou um fiscal bem desenvolvido. Ou o contrário. Com tanto desenvolvimento, onde é que esse mundo vai andar? Até porque parado já está mesmo, embora Galileu tenha afirmado que ele se move...

Pois bem. O novo secretário quer conhecer-me. Claro que não foi um convite particular mas, como quem está escrevendo sou eu, sinto-me na obrigação de relacionar tudo o que escrevo a mim mesmo.

Voltando ao assunto. O novo secretário quer conhecer-me. E, ao mesmo tempo, quer confraternizar comigo. Afinal, é isso que o evento é: confraternização.

Segundo o Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, confraternizar significa conviver fraternalmente, ser dos mesmos sentimentos, crenças ou idéias de outrem. Fraternizar significa unir-se estreitamente, como entre irmãos.

Uma confraternização seria, portanto, uma comemoração entre pessoas que são dos mesmos sentimentos, crenças e idéias e que são unidas como se fossem irmãos.

Bom, certamente somos das mesmas crenças, idéias e sentimentos, como se fôssemos irmãos, eu e o Secretário da SDU. Se assim não fosse, porque confraternizaríamos?

Se não somos fraternos, porém, restam-nos duas alternativas: ou queremos ser fraternos ou queremos fazer média e,portanto, somos ambos mentirosos.

De minha parte, eu não sei se quero ser fraterno nem comigo mesmo. Há dias que mal me suporto e não me queria nem como parente distante da tia da avó da minha vizinha, quanto mais ser meu irmão. Portanto, duvido da minha vontade de ser fraterno com o senhor Secretário da SDU. Quanto a fazer média, acho que já tenho mentiras demais na minha ficha. São tantas que acho que deverei fazer um estágio probatório antes mesmo de ser admitido no inferno. Deus me livre. Das mentiras, é claro. Pois do inferno nenhum fiscal escapará mesmo.

Quanto ao nosso senhor Secretário da SDU, eu creio que ele quer mesmo ser meu irmão. Certamente, já demonstrou que partilha das mesmas idéias que eu. Por isso, envidou todos os esforços para que se realizasse o concurso de acesso da maneira mais abrangente e organizada possível. Certamente também tem envidado esforços junto ao nosso senhor Prefeito para que o nosso salário tenha o reajuste devido. E, se quer realmente ser meu irmão, deve ter execrado publicamente aquelas 900 e poucas demissões, bem como o extenuante horário de trabalho das Auxiliares de Desenvolvimento Infantil (ADI’s).

A bem da verdade, se o nosso senhor Secretário da SDU quer ser meu irmão ele não deveria ser Secretário da SDU. Ele deveria estar cá mais embaixo, dividindo o pão dos meus dias comigo. Nada contra ele ser Secretário. Mas se essa é a escolha dele, não há porque querer confraternizar comigo, por nada haver para confraternizarmos. Não somos irmãos. Nem queremos ser irmãos. E, como estou tentando a todo custo não aumentar minha cota de mentiras, não vou fingir que quero ser irmão de alguém com quem não me sinto bem em dividir o pão dos meus dias.

Tenho dito. Ou escrito.

sábado, 20 de outubro de 2007

Um quase tema de um quase concurso.

Fui convidado por mim mesmo a escrever um trabalho sobre literatura, para um concurso chamado Rumos da Literatura.

Logo de início decidi escrever sobre crítica literária. Dei-me conta, então, que não sabia nada sobre crítica literária: o que ela é, como se faz, o que se levar em conta quando se faz a crítica.

Nem sei mesmo o que se pode criticar: critica-se o texto, o livro, a obra de um autor, o autor? A crítica se diferencia de acordo com o gênero literário: prosa, poesia?

O que há para se criticar na literatura?

Eu começaria fazendo uma análise do Dom Casmurro, de Machado de Assis. Analisaria o estilo de sua escrita, a sua capacidade de contar uma boa história com fluidez. Aliás, o que se espera de um escritor que se dispõe a escrever em prosa não é a capacidade de contar uma boa história?

Penso agora em Saramago. Quando li trechos de Memorial do Convento, em uma apostila de cursinho pré-vestibular, minha atenção foi direcionada para a originalidade de Saramago em escrever sem parágrafos, de tal maneira que obrigava-me a prestar mais atenção ao que estava sendo dito a fim de perceber quem estava falando naquele momento. Creio, porém, que se esse estilo não permitisse a Saramago contar uma boa história ele não seria um bom escritor.

Eu creio que o segredo da narrativa está em bem contar uma história. Não histórias boas ou ruins: há bons contadores de história e contadores de história medíocres.

Mas voltemos ao meu problema inicial: aprender algo sobre crítica literária. Fiz a primeira coisa que faço quando me deparo com problemas de tal complexidade: fui ao banheiro. Quer dizer, na verdade uso o banheiro para problemas também complexos, mas de uma complexidade de outra natureza. Fui ao sebo e comprei todos os três livros disponíveis sobre crítica literária no sebo. Procurei fugir de críticas e análises a autores, obras e períodos. Quis uma visão geral, de início.

Comecei a ler Crítica Literária no Brasil, de Wilson Martins. Dos três, pareceu-me o mais importante e completo, pois tem muitas páginas e vem em dois volumes. É muita tinta e papel. Por tabela, ganhei um problema secundário: encontrar o volume dois do livro. Secundário porque veio depois do principal, que é aprender algo sobre crítica literária, mas na ordem das coisas torna-se a prioridade, principalmente se o livro for bom. Pensando bem, essa história de escrever livros em volumes é uma idéia interessante e respeitosa para com o leitor: se não gostarmos do primeiro volume, basta não comprar o segundo (ou terceiro, caso haja). Ao passo que o sujeito, quer dizer, o escritor pode ser assim meio descuidado e enfiar 1000 páginas de uma vez no leitor e esse que se vire.

Como todo bom livro de crítica, ele já começa criticando um senhor chamado Alceu Amoroso Lima sobre uma querela relativa ao assunto do início histórica da crítica literária brasileira. Esse tema dos começos é mesmo uma complicação. Fico pensando comigo: se nem sei quando vou começar as minhas coisas, quando mais saber quando começaram as coisas dos outros. Mas eu admiro essas pessoas de coragem que tentam a todo custo descobrir esses inícios.

Pensei em pular esse trecho específico. Para o que pretendo fazer eu não precisarei saber quando começou a crítica literária brasileira. Interessa-me mais fazer parte dela. Ou, mais poeticamente, não me interessa quando ela começou, mas sim que ela continue, senão como farei parte dela? Posso fazer parte de algo que ainda não começou, mas nunca daquilo que já terminou.

Essa questão dos inícios aponta para um problema dos livros que tratam sobre a generalidade de um tema: geralmente trazem páginas e mais páginas de coisas que não nos interessam. Deveriam criar livros desmontáveis, ou melhor, montáveis: escolheríamos os capítulos que nos interessam e montaríamos o livro.

Isso traz a questão da essência: qual a essência da crítica literária? O que um livro que trata de crítica literária deveria trazer a fim de não se descaracterizar? Eu dispensaria o histórico da crítica. Ficaria com os seus elementos. Não sei se há isso de elementos da crítica literária, pois ainda não avancei tanto no citado livro. Mas há de haver. Em todo livro jurídico que trate da generalidade de uma disciplina há elementos. (...)

De modo que, no fim das contas, ficou-se apenas o desejo. O desejo e esse texto. E, na melhor das hipóteses, uma vereda ainda a ser explorada. Do concurso nem tenho mais notícia.

sábado, 13 de outubro de 2007

Vida sem fim

Hoje morreu Paulo Autran. Não tenho muito o que falar sobre ele, pois não sou fã nem conhecedor de teatro, nem tampouco da carreira dele. Porém, assistindo a alguns depoimentos de atores sobre ele uma frase de algum deles chamou-me a atenção. A pessoa em questão (não lembro o nome) dizia que agora ele precisava descansar, pois havia trabalhado muito (60 anos de carreira) e disse mais: uma vida precisa da morte para ser completa. Fiquei pensando nessa frase e ela faz um sentido enorme pra mim. Vez por outra, todo ser humano normal pensa que talvez pudesse viver para sempre. Alguns na verdade vivem suas vidas como se pudessem mesmo viver para sempre. E vez por outra, quando a morte nos encontra nas esquinas da vida, principalmente quando quem se vai é jovem, tem-se a impressão que a vida da pessoa ficou incompleta, como se a morte houvesse impedido que a pessoa completasse sua vida. A morte vem e deixa a vida incompleta - é o que nos parece. É como se sempre houvesse mais um pouco de vida para ser vivida e a morte impedisse esse mais-de-viver. Mas de repente me bate a impressão de que a vida, na verdade, se completa como a morte. É como se sem a morte a vida nunca se completasse, nunca fosse inteira. Fica a impressa de que se a vida não tivesse fim nunca poderíamos perceber o fim da vida...